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segunda-feira, 28 de julho de 2014

"Admirável" Mundo Novo



Admirável Mundo Novo possui um enredo envolvente do início ao fim. A ideia de uma sociedade sem infelicidade já é suficientemente excitante para qualquer leitor (amante da ficção ou não). “Admirável” não está no título por acaso .Na verdade, o título (todo) não é um acaso. A obra fala de um mundo realmente “admirável”.  É o tipo de livro que até o prefácio é admirável. Admirável, admirável...

Foi escrita no ano de 1931, pelo escritor Aldous Huxley (de nome aparentemente complicado). É composta por 312 páginas, com um prefácio e dezoito capítulos. A história é dividida em antes e depois de “Ford” (e é contada especificamente em 632 d.F.). Ford foi (nesta ficção) a base na nova sociedade, como um Deus. Revolucionou a ciência e aplicou em todas as áreas do conhecimento.

O Intrigante é que a ciência evoluiu tanto (e Huxley fez questão de acrescentar, no prefácio, que foram necessário mais de seiscentos anos, a contar dos dias atuais) que apagou o passado e o tornou verdadeiramente surpreendente – como se fosse impossível um dia ter acontecido.  

[...]quando não se tem o hábito da história, os fatos relativos ao passado, em geral, parecem mesmo incríveis.  

Isso se deu, principalmente, ao progresso tecnológico, pois as pessoas já não nasciam mais – eram produzidas. Uma após outra era programada a ser o que nasceu pra ser. Eram acostumadas, desde embriões, a odiarem a literatura clássica, pois tudo que era velho não servia mais para o “mundo atual”.

Com o domínio da consciência dos indivíduos, todo o resto ficava mais fácil. Poderiam produzir pessoas voltadas apenas para trabalhos considerados de risco, sem propensão para crescer e sair do ramo. Decidia-se quantos intelectuais eram necessários e sobre o que eles se interessariam. Assim, eliminavam-se as ambições e insatisfações que corroboram decisivamente para a infelicidade de uma pessoa.

Outro fato curioso estava nos hábitos das pessoas ditas “civilizadas”. Tomavam uma substancia de nome Soma, toda vez que se sentiam triste, infelizes, coléricas – qualquer emoção que não a felicidade. O remédio cortava os efeitos das emoções ruins enquanto estivessem no sangue. Tornando-as dependentes destes medicamentos.

Por falar em dependência. O livro também cita questões como o consumo industrial desenfreado e sua consequente dependência. Toda a civilização se fundamentava na ideia do consumo. Os esportes estavam, cada dia mais, caros, envolvidos por grandes aparatos tecnológicos. Tudo que era criado com simplicidade não era levado adiante.

Um dos personagens principais é Bernad, que não só não tomava Soma regularmente como também era diferente dos demais de sua casta. Diferente porque a produção de determinada casta levava em conta os aspectos físicos em comum. É como se todos devessem parecer uns com os outros, afim de evitar desigualdades. E Bernard, por ser diferente, causava certa estranheza às mulheres. Alimentando o sentimento mais proibido para uma sociedade que venera a felicidade – a solidão.

E é por se sentir solitário que assumia, muitas vezes, condutas subversivas. A subversividade, nesta sociedade, ou como em qualquer estado totalitário, da realidade, representa um risco à paz, de tal forma que Bernard, mais a frente, paga um preço alto. Será enviado, junto com seu amigo Helmholtz, que também padecia de problemas sociais, para o exílio. Este não era fisicamente diferente, mas almejava algo a mais na vida (uma ambição), coisa que, como já disse, não era admitida.

Outro personagem é Lenina, que não guardava nada de anormal, não possuía deficiência física ou inclinações para a subversão. Mas convivia com um terrível drama, por não conseguir relações sexuais com um Selvagem (de fora da civilização). E por falar nisso, O relacionamento é outro fator bastante debatido na obra, por ser um grande responsável pela felicidade (ou infelicidade).

Todos pertenciam a todos, assim, se batesse a atração, bastava convidar o(a) parceiro(a) e tudo resolvido. Para que ninguém terminasse sozinho, todos eram “educados” a não se apaixonar. O casamento era repulsivo, só a ideia já causava espanto a qualquer um. O selvagem, personagem principal da trama, foi convidado a conhecer os civilizados para mostrar sua cultura e aprender com a civilização. Justamente por ser de uma cultura onde ainda se valorizava o casamento, Lenina nunca conseguiu o que queria. Ele levou consigo sua mãe (Linda), que morreu tempos depois.

As crianças eram condicionadas a aceitarem a morte como algo normal. Por isso, eram levadas aos recintos das pessoas idosas que estavam prestes a morrer. Foi o que ocorreu com Linda. O Selvagem presenciou os últimos momentos de sua mãe junto com centenas de crianças. Revoltou-se pelo desrespeito que os pequenos tiveram com a situação - não deram a devida importância.

Da morte de Linda para o fim, o autor se compromete a explicar muitos pontos que não haviam ficado claro. Em diálogos, às vezes filosóficos, entre O Selvagem, Helmholtz e Mustafá Mond, é explicado, por exemplo, a razão de ninguém ler Shakespeare, a bíblia ou qualquer outro livro considerado “velho”. Portanto, devida a grande relação da obra com Shakespeare, o final não poderia deixar de ter um tom Shakespeariano – trágico.
    

Opinião

Como é possível notar, muitas das ideias do autor tratam situações que apesar de exagerada na ficção, não deixam de guardar semelhança com a realidade. Basta reparar ao nosso redor: a mania das pessoas de se medicar para tratar doenças como depressão, tristeza e mau humor; a educação das crianças cada dia mais controlada por entidades com monopólio; o mundo cada dia mais consumerista, sempre com grande aplicação de tecnologia nos seus produtos. O relacionamentos, como Huxley fez questão de anotar, estão cada dia mais fáceis, com um número de divórcios quase maior que o de casamentos.

Acredito que o livro traz uma mensagem oculta de fácil compreensão. Nos ajuda a entender um pouco a direção que estamos tomando na evolução. Uma obra fenomenal que merece ser lida por qualquer um.


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