Em algum lugar do planeta, estava
um homem de aparência abatida. O sol, naquele local, queimava tudo que se mantinha
inerte no caminho; areia, pedras, asfalto; tudo que resistia ao menor movimento
de uma brisa. O indivíduo contemplava esse percurso natural e inevitável das
coisas do único lugar capaz de permitir a existência da matéria viva: na sombra
da árvore.
Em baixo das folhas, não havia a incidência da luz abrasadora do sol. O vento, como que por piedade, soprava os galhos, impedindo a incineração instantânea da árvore e de tudo que ela cobria. A sombra, ali, era o único refúgio de vida. Mesmo protegido, ainda era possível sentir na pele, através de leves baforadas de vento quente - trazidas pelo movimento das máquinas - o poder inquisidor do sol.
Com um olhar firme no horizonte, à espera de sua salvação, o homem permanecia calado e reflexivo. Pensara em lançar-se fora da proteção da sombra, para que, assim, o calor o devorasse de uma vez por toda, pois acreditava que as brisas ardentes o torturavam muito mais que o perecimento imediato diante do sol. Quando sua última esperança já estava preste a se transformar numa centelha, ele avistou, entre o vapor mortífero do ar, o sinal da salvação: seu ônibus estava chegando.
Nenhum comentário:
Postar um comentário