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sexta-feira, 25 de abril de 2014

Diálogos inesperados

(Imagem/http://otemporeina.blogspot.com.br/)


Fazia muito tempo que Antônio e José não se viam. A última vez que se encontraram, estavam num Workshop de uma exposição do curso de Medicina. Possuidores de destinos adjacentes, não era nenhuma surpresa que se encontrassem, quase sempre, inesperadamente. Súsi, confidente dos dois, atribuía tal enigma à falha divina: O Grande Arquiteto usou uma régua! Traçou duas longas retas sobrepostas e criou o destino.

Eram tão comuns que pareciam viver a mesma vida: ambos com um pai cirurgião e uma mãe enfermeira; partícipes da classe média; na época, namoradas com mesmo nome: Lívia, que recebiam cartas, muitas vezes, trocadas, ou eram, constantemente, namoradas por engano; chegavam ao cúmulo de, em certos dias, aparecerem na escola vestindo roupas iguais, nos únicos dias em que era obrigatório não irem fardados.

José passou muitos anos sem contato com Antônio, quando, finalmente, o reencontrou. O encontro não chegou a ser tão comum como se pensava, mas eles bem que tentaram. Descrevendo seu caminho de forma extremamente resumida, pois supunha que Antônio passava pelas mesmas experiências. Falou dos procedimentos que já estava realizando em alguns órgãos: tratamento de lesões e transplante. E mencionou, também, seu recente casamento com Thalita da Silva, apesar de não esperar que fosse uma grande novidade.

Após tagarelar sem parar, se despediu e cada um tomou seu rumo. Depois de algum tempo, refletiu sobre o encontro, até concluir que algo estava fora do padrão: Antônio não falara! Não fosse o: “oi, tudo bem?” e “tchau”, pronunciados por Antônio, aquele encontro seria um monólogo do mais alto grau, ou segundo a percepção de Súsi: se a maior parte prevalece (no caso, a voz de uma pessoa), então, foi, sim, um monólogo!

Destinado a descobrir as razões da quebra de protocolo, José ligou para Antônio, com a promessa de manter-se calado. Somente ouvir. Foi quando, enfim, descobriu a verdade: em algum momento do diálogo, o autor decidira que José, fosse só José e Antônio, só Antônio. Parou de tratá-los como “ambos”. No último encontro, Antônio se manteve calado por supor que José tivesse feito as mesmas escolhas que ele: nunca começou medicina, e por isso, resumiu para não entrar em detalhes que nunca conheceu, e casou-se com Thalita da Silva (antes, Fiuska da Silva, traficante de drogas e integrante de grupos armados).

Acontece, que José, apesar de ter sido extremamente sucinto, realmente concluiu o curso de Medicina, e a sua esposa, até onde sabia, sempre foi Thalita da Silva. Susi, ciente das intempéries do destino, concluiu:  óbvio que uma linha saiu torta!

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