(Imagem/http://otemporeina.blogspot.com.br/)
Fazia muito tempo que Antônio e
José não se viam. A última vez que se encontraram, estavam num Workshop de uma
exposição do curso de Medicina. Possuidores
de destinos adjacentes, não era nenhuma surpresa que se encontrassem, quase
sempre, inesperadamente. Súsi, confidente dos dois, atribuía tal enigma à falha
divina: O Grande Arquiteto usou uma régua!
Traçou duas longas retas sobrepostas e criou o destino.
Eram tão comuns que pareciam
viver a mesma vida: ambos com um pai cirurgião e uma mãe enfermeira; partícipes
da classe média; na época, namoradas com mesmo nome: Lívia, que recebiam cartas,
muitas vezes, trocadas, ou eram, constantemente, namoradas por engano; chegavam
ao cúmulo de, em certos dias, aparecerem na escola vestindo roupas iguais, nos
únicos dias em que era obrigatório não irem fardados.
José passou muitos anos sem
contato com Antônio, quando, finalmente, o reencontrou. O encontro não chegou a
ser tão comum como se pensava, mas eles bem que tentaram. Descrevendo seu
caminho de forma extremamente resumida,
pois supunha que Antônio passava pelas mesmas experiências. Falou dos procedimentos
que já estava realizando em alguns órgãos: tratamento de lesões e transplante. E
mencionou, também, seu recente casamento com Thalita da Silva, apesar de não
esperar que fosse uma grande novidade.
Após tagarelar sem parar, se
despediu e cada um tomou seu rumo. Depois de algum tempo, refletiu sobre o
encontro, até concluir que algo estava fora do padrão: Antônio não falara! Não
fosse o: “oi, tudo bem?” e “tchau”, pronunciados por Antônio, aquele encontro seria
um monólogo do mais alto grau, ou segundo a percepção de Súsi: se a maior parte
prevalece (no caso, a voz de uma pessoa), então, foi, sim, um monólogo!
Destinado a descobrir as razões da
quebra de protocolo, José ligou para Antônio, com a promessa de manter-se
calado. Somente ouvir. Foi quando, enfim, descobriu a verdade: em algum momento
do diálogo, o autor decidira que José, fosse só José e Antônio, só Antônio.
Parou de tratá-los como “ambos”. No último encontro, Antônio se manteve calado por
supor que José tivesse feito as mesmas escolhas que ele: nunca começou medicina,
e por isso, resumiu para não entrar em detalhes que nunca conheceu, e casou-se
com Thalita da Silva (antes, Fiuska da Silva, traficante de drogas e integrante
de grupos armados).
Acontece, que José, apesar de ter
sido extremamente sucinto, realmente concluiu o curso de Medicina, e a sua
esposa, até onde sabia, sempre foi Thalita da Silva. Susi, ciente das intempéries
do destino, concluiu: óbvio que uma linha saiu
torta!
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