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sábado, 1 de março de 2014

A descredibilidade do “eu te amo” e a concisão.

(Imagem/www.americanas.com.br)

Os relacionamentos estão sempre se modificando no tempo e no espaço. Não faz muito tempo que a expressão “adeus” era comumente empregada nas despedidas. Se Toinha se encontrasse com o Joaquim [repare que até os nomes próprios sofreram alterações, pois não se utilizam mais esses em lugar nenhum do mundo] podiam conversar sobre o que fosse: a comida do vizinho, a festa do final de ano, o doido do Chico; teriam sempre que se despedir com um “adeus”.  Uma espécie de rito. Hoje? Hoje, essas expressões ainda são utilizadas normalmente, só que, agora, em velórios. Se a Toinha de hoje, se despedisse assim, o seu Joaquim ela nunca mais veria.

O mesmo vem ocorrendo com a expressão “eu te amo”. Tal exteriorização passou por muitas mudanças até chegar no “eu te amo”. A construção permanece, mas o sentimento empregado vem se transformando. Nos primórdios, mal se falava alguma coisa. Se o homem das cavernas dissesse para sua companheira, em outras palavras, a mesma expressão eu te amo, ele diria com todo o sentimento do mundo: Aprua te te! O suficiente para ela dar-lhe uma paulada de amor. Foi assim também na idade média. Com a já difusão do eu te amo, seu Jorge, para provar seu amor por Maria Aparecida, dizia: Maria, rogo a todos os santos para te proteger até o ultimo dia, pois eu te amo e sempre farei as vontades de Deus.  

Dizer: eu te amo, atualmente, já não é mais a mesma coisa. Primeiro que o “eu”, por motivos de conveniência, em um mundo cada vez mais veloz e globalizado, perdeu sua força e relevância. Agora, o certo é: te amo. Isso, claro, tirando as inúmeras abreviações que ganhou: Tamo, T <3, Amo. Tudo em nome da brevidade. Lembra da Toinha? Se ela vivesse hoje, jamais se adaptaria, pois seria severamente advertida por Joaquim, ou coisa pior, quando ouvisse dela ao se despedir: Joaquim, te amo. Adeus! De raiva, devolveria: Oh! Infeliz, tu quer a minha morte, é? Diga logo!

O futuro do eu te amo é completamente incerto. As consequências advindas do seu uso provocarão inúmeras separações, se é que ainda irão existir uniões. O marido, pego em flagrante traição, falará: Não faça isso, meu amor. Te amo! E o eu te amo deixará de ser “de amor” para ser “de piedade”. O Eu te amo e a paulada, uma antiguidade misturada. Dessa forma, o eu te amo seguirá um ciclo sem fim de misturas entre novas e antigas palavras. Logo, o novo eu te amo será o antigo:  Aprua. (Sem ote te”, em nome da concisão textual e verbal.)

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